sábado, 12 de março de 2011

Materia jornalistica no Jornal "O LIBERAL"




Caderno Cartaz

públicado em 09 de Agosto de 2001

Fãs fazem festa no aniversário de Fafá



Quem não lembra de Fafá de Belém emocionada cantando para o Papa João Paulo II e burlando o protocolo para dar um abraço no chefe da Igreja Católica durante a visita dele ao Brasil? Mais memorável ainda foi a gargalhada da cantora ao comentário de uma repórter de O LIBERAL sobre o caso: “Mas Fafá, que história foi essa de você quase derrubar o Papa?”. E Fafá, no melhor dos humores, como sempre: “Jura? Eu achava que estava subindo tão elegante para falar com ele!” É desse jeito bem-humorado, despojado e vibrante que a gente lembra de pronto quando fala da cantora paraense que completa 45 anos hoje e brindou os seus 25 anos de carreira no início do ano, com um disco refinado, cheio de memórias e sentimentos, assinado como deveria: Maria de Fátima Moura Palha Figueiredo. O fã-clube dela em Belém, o “Fafá Essencial”, prepara uma festa para reunir aficcionados no sábado, ao som dos discos da cantora, que se apresenta este mês na Indonésia.
Admiração - É justamente essa simpatia para todas as horas que é lembrada pelo fã Elson Viana, um dos criadores do Fafá Essencial, para explicar de onde vem a admiração pela cantora. Além, claro, do poder da interpretação dessa paraense que se viu envolvida pela música desde os primeiros anos.
Esse vigor é um dos elementos fortes para explicar como Fafá conseguiu se tornar não só referência regional e nacional, como uma voz conhecida e admirada no mundo. Capaz de explicar o porquê ela escutou, quando chegou há Portugal há alguns anos (hoje a cantora se divide entre o Brasil e a Europa) um grupo de torcedores cantando “Vermelho” a caminho de um estádio de futebol, incorporando um pouco do boi-bumbá amazônico à sobriedade lusitana.
Elson Viana diz que descobriu Fafá na adolescência, quando ela começou a se apresentar nos programas de televisão e ele sentiu orgulho de ver uma paraense com jeito de paraense destacada nacionalmente. “Ela se apresentava descalça, com umas saias compridas, com uns trejeitos bem regionais. Ouvi o LP Tamba-Tajá que uma prima tinha e a interpretação da Fafá me fascinou. No início, era uma idolatria mesmo, eu ficava sozinho escutando as músicas dela. Acho que a interpretação dela, o profissionalismo, essa veia que ela tem fazem com que ela possa cantar qualquer coisa, porque ela transforma tudo com o estilo dela.”
Fãs - Há quatro anos, Elson encontrou outro alucinado por Fafá, Renato Pereira, e juntos eles conseguiram reunir 150 fãs de carteirinha no Pará, depois de divulgarem o fã-clube em jornais e revistas. No acervo coletivo de mais de cem posters, além de LPs e CDs, se pode ver várias fases de Fafá - a sensualidade dos primeiros anos, as imagens de sexy simbol, a maternidade, a relação com a terra natal, a atitude política. Mas também há o fetiche: um dos orgulhos do grupo é uma banda de sapato que a cantora usou quando desfilou no carnaval paraense pelo Rancho Não Posso Me Amofiná, em 1999.
Encontram-se a cada três meses numa festa em que não faltam brincadeiras, troca de informações e disputas para ver quem sabe mais sobre a vida profissional e pessoal da cantora. “Ela já nos reconheceu como divulgadores da carreira dela, é muito simpática, tem respeito pelo nosso trabalho e, quando vem a Belém, nos encontramos.”
Mobilização - Elson vai mais longe. Diz que as autoridades locais ainda não fizeram a homenagem que Fafá merece e, depois de esperar que houvesse essa consciência, resolveu pedir mais reconhecimento. “Ela é muito importante para nós, tem levado o nome de Belém pelo mundo. Estamos pensando em fazer exposições sobre ela, em breve fundar um museu, ou colocar seu nome em uma praça ou rua. Esperava que as próprias autoridades atentassem para isso, mas como não surgiu nenhuma iniciativa, vamos nos mobilizar para pedir por isso.”
Para Elson, Fafá é, antes de uma cantora destacada, um ser humano especial. “Ela tem um senso de humor maravilhoso. Nunca a vi triste, pensativa. Por isso o público vibra com ela.” Que diga o público que lotou a Praça da República quando Fafá cantou seu boi-bumbá transmitido ao vivo pela TV Globo para rede nacional. O fã diz ainda que a cantora é uma pessoa segura e extramamente profissional, “capaz de dar seriedade a tudo que faz.”
Entre os pontos mais marcantes da carreira de Fafá de Belém, Elson fala do seu envolvimento com a campanha das Diretas, Já!, com o disco “Aprendizes da Esperança”, em que uma versão do hino nacional que até hoje é uma das músicas mais pedidas em suas apresentações. “O disco foi vetado pelo Ministério da Justiça por causa da interpretação que ela deu ao hino nacional. Mas umas semanas depois, o disco foi liberado.”
Raízes - Outro momento foi o do disco “Pássaro Sonhador”, onde Fafá gravou “Vermelho” e ajudou a dar visibilidade para o festival de bois de Parintins. O último disco, “Maria de Fátima Moura Palha Figueiredo” também virou referência, ao trazer um repertório escolhido pela cantora a partir das lembranças do que ela cantava ainda na adolescência em Belém.
No caso dos paraenses, a simpatia pela figura de Fafá também acontece pela forma com que a cantora preserva suas raízes. Da comida regional que ela faz questão de divulgar - a ponto de retrucar em um programa de entrevistas nacional que o açaí que se tomava no Rio de Janeiro era água suja - aos cheiros do Pará comprados nas barracas do Ver-o-Peso que continuam sendo seus preferidos. “Ela sempre faz questão de falar sobre Belém e sobre o jeito dos paraenses.”

Momentos em Piracicaba - São Paulo